19.9.08

Walter Benjamin - "O Narrador"

Em nossa quinta aula, conversamos um pouco sobre o texto “O narrador”, de Walter Benjamin. Infelizmente, não foi possível trabalhar e analisar esse material durante a oficina Escrevivendo Memórias de Amor, apesar da importância desse texto para a reflexão do ato de narrar.

Recomendamos a todos que façam a leitura integral do texto, porque as considerações de Benjamin dialogam com a proposta do Escrevivendo, portanto, é uma leitura indispensável, uma vez que fala sobre a importância da memória e das vivências do narrador.

Por ora, selecionamos apenas alguns trechos que julgamos importantes. Consultem outras sugestões de leitura no link Bibliografia.

Boa leitura!

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“É a experiência de que a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. [...] É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências”.


“A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos.”


“Tudo isso esclarece a natureza da verdadeira narrativa. Ela tem sempre em si, às vezes de forma latente, uma dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida – de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos. Mas, se ‘dar conselhos’ parece hoje algo antiquado, é porque as experiências estão deixando de ser comunicáveis. Em conseqüência, não podemos dar conselhos nem a nós mesmos nem aos outros. Aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada. Para obter essa sugestão, é necessário primeiro saber narrar a história (sem contar que um homem só é receptivo a um conselho na medida em que verbaliza sua situação). O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção.”


“Nada facilita mais a memorização das narrativas que aquela sóbria concisão que a salva da análise psicológica. Quanto maior a naturalidade com que o narrador renuncia às sutilezas psicológicas, mais facilmente a história se gravará na memória do ouvinte, mais completamente ela se assimilará à sua própria experiência e mais irresistivelmente ela cederá à tentação de recontá-la um dia. [...] Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica. O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta.”


“A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio de artesão – no campo, no mar e na cidade –, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação. [...] Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso.”


“Quem escuta uma história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê partilha dessa companhia. Mas o leitor de um romance é solitário.”


“O grande narrador tem sempre suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais.”


(BENJAMIM, Walter. O narrador (1936). In: Walter Benjamin – obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996.)

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