23.9.08

Sexta aula (20-09-2008)

Caros visitantes,

Nosso sexto encontro foi muito importante para começarmos a arrematar a oficina Escrevivendo Memórias de Amor. Iniciamos com a discussão teórica que havíamos achado melhor deixar para o fim da oficina, mesmo: aquela que dizia respeito à diferenciação entre os gêneros do discurso crônica e conto.

Sem pretensão nenhuma de meramente classificar, levar tudo engessado e pronto, primeiro lemos em sala dois textos bastante distintos, produzidos pelos próprios escreviventes. Um chama-se "A lasanha do Pelicano", de autoria da Vovó Neuza; e o outro, "Amor e desamor", de Bruna Nehring (seus blogs encontram-se na coluna do lado esquerdo deste blog). Após a leitura, passamos a deduzir as características estruturais dos textos e a situação de comunicação em que cada um seria produzido, de acordo com o que diz Mikhail Bakhtin diz em seu texto "Os gêneros do discurso" (1). A partir daí, passamos a fazer asserções em relação a cada gênero, para identificar suas especificidades, o que organizei segundo também o material teórico que já havia reunido, incluindo as aulas do professor Joaquim Alves de Aguiar (2):

CRÔNICA

  • Extensão menor (v. Diferença decisiva);
  • limita-se a temas do cotidiano;
  • linguagem sempre simples;
  • caráter momentâneo, sendo escrita para a imprensa;
  • menos ficcional.

CONTO

  • Extensão maior;
  • linguagem ora rebuscada ora simples;
  • caráter durativo, escrito para o livro;
  • mais ficcional.

Diferença decisiva: o conto procura uma tensão narrativa que a crônica dispensa. É essa tensão narrativa a responsável pela complexidade do enredo e, conseqüentemente, também pela extensão maior do conto.

Esse esquema que está aqui foi produto de deduções dos leitores (e produtores) escreviventes, não tendo o objetivo de dar a receita de nada a ninguém. Crônica e conto têm suas especificidades, embora, como acontece com todos os gêneros, possam vir entrelaçados, fundidos, sem limites determinados (demos um exemplo em sala), o que, aliás, é mais comum. O que sempre temos de fazer é refletir sobre como os textos foram construídos e por quê, qual o objetivo de o autor ter dito daquela forma e naquele gênero, e não em outro. Quanto aos itens transcritos acima, foram bastante discutidos no encontro, por isso eles possam aqui parecer descontextualizados, uma receita. Longe de nós querer isso, uma vez que o alvo de crítica do Escrevivendo são justamente as fórmulas de texto e escrita. O fato é que os escreviventes sentiram a necessidade de discutir esses dois gêneros, dentre inúmeros possíveis para escrever sobre memórias.

A atividade mostrou-se muito boa dentro da metodologia da oficina e sem dúvida será repetida em outras oportunidades.

Para quem quiser se aprofundar mais, recomendamos os seguintes textos teóricos:

Sobre a crônica:

CANDIDO, Antonio. A vida ao rés do chão. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Crônicas. Série Para gostar de ler - v.5. São Paulo: Ática, 1989.

SETOR DE FILOLOGIA DA FUNDAÇÃO CASA RUI BARBOSA (org.). A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.

Sobre o conto:

CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: Valise de cronópio. Série Khronos. São Paulo: Perspectiva, 2006.

GOTLIB, Natália Batella. Teoria do conto. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1990.

Após a teoria, Mafuane contou a história de um pedreiro que teve de sofrer muito e aprender duras lições para dar valor a seu trabalho. Tencionamos com essa contação refletir metaforicamente sobre o ato da escrita e da autoria. Todos entenderam a mensagem!

Já na segunda parte de nosso encontro, perguntamos aos escreviventes no que a Oficina AME os havia ajudado; qual teria sido a importância dela no processo de escrita e na autoria de cada um. Eu e Mafuane, como mediadoras, conseguimos, ao longo do Escrevivendo, perceber isso que estávamos perguntando, mas gostaríamos de saber se os escreviventes tinham consciência do quanto é importante participar do Projeto. Nosso retorno foi muito positivo.

Para fechar, a Mafuane ensinou passo a passo como criar um blog ou aceitar o convite para ser colaborador de um já existente. Todos interagiram, tiraram suas dúvidas internéticas e, parecem, sentiram-se mais à vontade para utilizar os recursos da blogagem.

No próximo encontro, teremos um sarau na cozinha: Café com Letras. Todos poderão levar textos seus inéditos e textos prediletos de autoria de outrem. Será um fecho delicioso, literalmente. Para se inspirar, que tal visitar o blog do Tiago, "Bossa e Café" (veja o link à margem esquerda deste blog), que apresenta receitas deliciosas com café?

NOTAS:

1. BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

2. Professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Letras da USP (2003).

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