Caros visitantes,
Nosso sexto encontro foi muito importante para começarmos a arrematar a oficina Escrevivendo Memórias de Amor. Iniciamos com a discussão teórica que havíamos achado melhor deixar para o fim da oficina, mesmo: aquela que dizia respeito à diferenciação entre os gêneros do discurso crônica e conto.
Sem pretensão nenhuma de meramente classificar, levar tudo engessado e pronto, primeiro lemos em sala dois textos bastante distintos, produzidos pelos próprios escreviventes. Um chama-se "A lasanha do Pelicano", de autoria da Vovó Neuza; e o outro, "Amor e desamor", de Bruna Nehring (seus blogs encontram-se na coluna do lado esquerdo deste blog). Após a leitura, passamos a deduzir as características estruturais dos textos e a situação de comunicação em que cada um seria produzido, de acordo com o que diz Mikhail Bakhtin diz em seu texto "Os gêneros do discurso" (1). A partir daí, passamos a fazer asserções em relação a cada gênero, para identificar suas especificidades, o que organizei segundo também o material teórico que já havia reunido, incluindo as aulas do professor Joaquim Alves de Aguiar (2):
CRÔNICA
- Extensão menor (v. Diferença decisiva);
- limita-se a temas do cotidiano;
- linguagem sempre simples;
- caráter momentâneo, sendo escrita para a imprensa;
- menos ficcional.
CONTO
- Extensão maior;
- linguagem ora rebuscada ora simples;
- caráter durativo, escrito para o livro;
- mais ficcional.
Diferença decisiva: o conto procura uma tensão narrativa que a crônica dispensa. É essa tensão narrativa a responsável pela complexidade do enredo e, conseqüentemente, também pela extensão maior do conto.
Esse esquema que está aqui foi produto de deduções dos leitores (e produtores) escreviventes, não tendo o objetivo de dar a receita de nada a ninguém. Crônica e conto têm suas especificidades, embora, como acontece com todos os gêneros, possam vir entrelaçados, fundidos, sem limites determinados (demos um exemplo em sala), o que, aliás, é mais comum. O que sempre temos de fazer é refletir sobre como os textos foram construídos e por quê, qual o objetivo de o autor ter dito daquela forma e naquele gênero, e não em outro. Quanto aos itens transcritos acima, foram bastante discutidos no encontro, por isso eles possam aqui parecer descontextualizados, uma receita. Longe de nós querer isso, uma vez que o alvo de crítica do Escrevivendo são justamente as fórmulas de texto e escrita. O fato é que os escreviventes sentiram a necessidade de discutir esses dois gêneros, dentre inúmeros possíveis para escrever sobre memórias.
A atividade mostrou-se muito boa dentro da metodologia da oficina e sem dúvida será repetida em outras oportunidades.
Para quem quiser se aprofundar mais, recomendamos os seguintes textos teóricos:Sobre a crônica:
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés do chão. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Crônicas. Série Para gostar de ler - v.5. São Paulo: Ática, 1989.
SETOR DE FILOLOGIA DA FUNDAÇÃO CASA RUI BARBOSA (org.). A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
Sobre o conto:
CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: Valise de cronópio. Série Khronos. São Paulo: Perspectiva, 2006.
GOTLIB, Natália Batella. Teoria do conto. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1990.
Após a teoria, Mafuane contou a história de um pedreiro que teve de sofrer muito e aprender duras lições para dar valor a seu trabalho. Tencionamos com essa contação refletir metaforicamente sobre o ato da escrita e da autoria. Todos entenderam a mensagem!
Já na segunda parte de nosso encontro, perguntamos aos escreviventes no que a Oficina AME os havia ajudado; qual teria sido a importância dela no processo de escrita e na autoria de cada um. Eu e Mafuane, como mediadoras, conseguimos, ao longo do Escrevivendo, perceber isso que estávamos perguntando, mas gostaríamos de saber se os escreviventes tinham consciência do quanto é importante participar do Projeto. Nosso retorno foi muito positivo.
Para fechar, a Mafuane ensinou passo a passo como criar um blog ou aceitar o convite para ser colaborador de um já existente. Todos interagiram, tiraram suas dúvidas internéticas e, parecem, sentiram-se mais à vontade para utilizar os recursos da blogagem.
No próximo encontro, teremos um sarau na cozinha: Café com Letras. Todos poderão levar textos seus inéditos e textos prediletos de autoria de outrem. Será um fecho delicioso, literalmente. Para se inspirar, que tal visitar o blog do Tiago, "Bossa e Café" (veja o link à margem esquerda deste blog), que apresenta receitas deliciosas com café?
NOTAS:
1. BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
2. Professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Letras da USP (2003).
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