Havia, em um reino distante, um soberano que maltratava seu povo. Isto estava causando uma revolta compulsiva, até mesmo a rainha sentia-se constrangida. A revolta era tanta, que já se ouvia nos corredores do palácio rumores de golpe de estado. Os militares eram tratados como serviçais. Os súditos do palácio andavam amedrontados e faziam de tudo para não cruzarem com o rei.
Sua filha era tratada como uma cidadã comum, sem regalias e com desprezo. Nos momentos difíceis, contava apenas com sua mãe, que, no entanto, não podia fazer quase nada. Era fiscalizada de perto por um dos conselheiros mais próximos ao rei. Com isso era infeliz e vivia em depressão. Fazia tudo para agradar ao pai, mas nada surtia o efeito desejado. Seus pretendentes eram perseguidos e até expulsos do reinado.
Ela estava prometida a um príncipe de um reinado distante; por puro interesse comercial. Ele era detentor de uma frota de navios e dominava o comercio marítimo em quase todo o continente. Já o rei, seu pai, tinha muitas minas de ouro e uma agricultura deficitária. O acordo comercial com o príncipe era de suma importância para manter o suprimento de seus celeiros e a venda de seus minérios. O que menos importava era a felicidade da filha.
A revolta atingira proporções graves. Um de seus conselheiros mais próximos propôs ao rei que fosse feita uma festa com trocas de presentes. Assim os súditos se aproximariam do palácio e as desavenças seriam desfeitas. Era uma excelente oportunidade para apresentar o príncipe a sua filha e a seus súditos.
Convites foram enviados a todos os feudos, artesões e comerciantes do reinado. Seus embaixadores viajaram a reinados e principados próximos para convidarem seus soberanos. Com isso, se esperava que os conflitos eminentes fossem desfeitos. Era uma oportunidade de ouro para todos. Muitos presentes foram comprados. Os melhores artistas foram convidados. Banquetes foram montados. Tudo estava em perfeita harmonia com as pretensões do rei.
Chegou o dia da festa. As caravanas começaram a chegar. O rei recebeu muitos presentes: jóias, animais raros, especiarias do oriente, até escravos o rei recebeu de presente.
De repente, todos levantam e se inclinam, o rei está entrando no ambiente. Senta em seu trono, que está rodeado de presentes: à esquerda, aqueles que foram enviados pelos convidados e a sua direita, aqueles que seriam distribuídos pessoalmente pelo rei.
O vassalo-mor começa a chamar as pessoas ali presentes, que se aproximam, beijam o anel do rei e recebem uma lembrança da festa.
Eis que no meio dos convidados surge um velho aldeão da região mais distante do reinado. Ele traz um presente embrulhado em uma folha de papiro. Aproxima-se e pede permissão para entregá-lo ao rei. Todos o olham com reprovação, afinal o presente deveria ter sido entregue logo que o convidado entrasse no palácio. No entanto, como o objetivo da festa era amenizar as relações com seus súditos, o rei prontamente autorizou a entrega do presente.
Todos ficaram curiosos. O que esse velho teria dado de presente ao rei?
O rei abriu o presente e, para surpresa de todos, era um espelho de prata. Foi o maior cochicho. O rei perguntou prontamente:
_ Por que me trazes um espelho, tenho tantos no palácio?
Todos fitam o velho a espera de sua resposta.
_É para que vossa majestade veja o que vem causando tantos conflitos em seu reinado.
Terminada a festa, todos partiram para suas casas. Somente o velho aldeão foi impedido de partir. No dia seguinte ele foi chamado a ter uma audiência com o rei.
_Como se atreve a trazer um presente desses? Não vê que me ofendes com tal atitude?
_Senhor, muitas vezes é necessário que os outros nos mostrem quais os verdadeiros problemas que temos de enfrentar. Às vezes nossos problemas não passam de conflitos que devem ser travados com nós mesmos. Seu reinado é perfeito. O que deve mudar são as atitudes de vossa majestade.
1 comentários e flerte(s):
Querido Hilário! Que bom que postou por aqui e que tenha voltado a usar o seu blogue!
Apareça em agosto...e, enquanto isto, conheça escrevivendointer.blogspot.com / escrevivendomascaras.blogspot.com e leia (comente) os últimos textos dos escreviventes.
Beijo,
KK
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